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Juridiquês não é inteligência. É ruído disfarçado de formalidade.


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“Venho, respeitosamente, por meio desta, requerer a presente juntada da missiva enviada anteriormente, a fim de que surta os devidos efeitos legais que dela se esperam.”


Pausa.

Respira.

Releia.


Sabe o que esse texto quer dizer? 

“Peço que o documento enviado seja incluído ao processo.” 

Simples assim.

Mas ainda há quem acredite que escrever como se estivesse em um teatro romano é sinal de erudição, conhecimento vasto. Não é. É só vaidade fantasiada de formalidade.


E o juridiquês não para por aí. Quer mais? Aqui vai:

  • “Insta salientar que a parte autora já havia anelado o pleito em demanda pretérita.” (Tradução: já pediu isso antes.)

  • “Deferida a tutela antecipada, intime-se a parte adversa para manifestação no prazo legal.” (Tradução: o pedido foi aceito e o outro lado deve responder.)

  • “O demandado quedou-se inerte ante o chamamento judicial.” (Tradução: não respondeu.)


É isso: floreios. Excessos. Neblina.


O problema não é usar termos técnicos. Técnica é necessária. O problema é usar a linguagem como escudo. Como se dificultar fosse sinônimo de brilhar. Não é. O que se esconde atrás de períodos quilométricos e expressões em latim muitas vezes é só insegurança. Ou pior: desprezo por quem está do outro lado.


Porque, convenhamos, o Direito deveria servir às pessoas e não afastá-las. Não há mérito em redigir um documento que só advogados compreendem. Não há elegância em elaborar uma petição que exige tradução simultânea. Mas existe beleza na clareza, na objetividade.


Achar que inteligência exige linguagem complexa é um ledo engano. E é um erro caro: custa tempo, confiança, e acesso à justiça.

Não se trata de “falar como o povo fala”. Trata-se de falar com clareza, com respeito, com objetividade. A linguagem é ponte ou muro. E o juridiquês, quando mal usado, só serve para levantar muros.


Clareza é sofisticação. Precisão não exige pedantismo. E a Elegância mora na simplicidade.

É possível e necessário escrever bem sem esconder o sentido das palavras. Pois o que se comunica mal, se interpreta mal. E o que se interpreta mal, se decide mal.


A justiça começa na linguagem. E se ela começa confusa, termina injusta.

O juridiquês, quando usado em excesso, não impressiona. Afasta. Exclui. Arrogantemente fecha portas.


Por isso, advogar bem, hoje, também é saber escrever com clareza e falar com objetividade. É saber traduzir. É saber se fazer entender.


Porque, cá entre nós, que mérito há em falar bonito, se ninguém entende o que você quer dizer?


 
 
 

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